quinta-feira, 16 de julho de 2009

Onírico

Ao sair para o meu usual intervalo de exatos vinte e cinco minutos do meu direito de proletária, algo me tirou daquele torpor maquinal. Encontrei, parada diante da portaria 2 uma moça de olhos dispersos e introspectivos que tentava arrancar uma informação do segurança – manequim. Notou o meu crachá e veio em minha direção, Aonde está a “árvore dos sonhos”? Não entendi. Precipitou uma explicação, Aquela que fazia parte da exposição japonesa, Onde ela está? Desculpa moça, mas essa exposição já foi desmontada. Percebi o pesar em seus olhos e soltei algo displicente, Você queria colocar um sonho na árvore? Não... Queria resgatar o sonho de minha avó, o que foi feito com a árvore? Não sei moça, não tenho idéia, mas provavelmente... A minha avó faleceu... Me comovi, Vou até a administração e prometo voltar com uma resposta sobre o destino da árvore. Aquele não era o meu departamento. Nem a exposição japonesa, nem a árvore, nem os sonhos, mas fui mesmo assim.

Juliana, as árvores dos sonhos fazem parte de uma tradição japonesa, uma lenda, onde dois deuses-estrelas se apaixonam e só conseguem se encontrar em Julho, é nessa época que a árvore, juntamente com os sonhos, deve ser queimada, para que a fumaça chegue às vistas dos deuses enamorados. Foi a resposta que obtive de minha chefe. Atearam fogo no sonho da avó e no sonho da moça.

Fui de encontro aos olhos novamente, Moça, desculpe, mas segundo a tradição, a árvore deve ser queimada... Olhou para baixo e soltou um suspiro e um Muito obrigada moça... Senti que devia dizer algo, mais para constar que para consolar, Moça...a sua avó depositou seu sonho na árvore com todo o fervor que poderia ter, Nunca saberemos o seu último desejo, a árvore foi queimada, Mas tenha a mesma fé de sua avó que esse sonho se realizará, Fiquemos por hora com a fumaça, mas você perceberá claramente quando ela se dissipar. Ganhei um abraço tímido.

Maquinalmente voltei ao meu posto, maquinalmente me dirigi ao canto mais escuro da exposição e maquinalmente comecei a chorar. Não um choro de tristeza, mas um choro de algo que foi preenchido inexplicavelmente e que queria transbordar. A máquina chorara, sonhara e teve novamente fé.

Confesso que são tempos difíceis para os sonhadores. São poucos os que sonham, e não falo dos mesquinhos sonhos materiais. Falo antes dos sonhos mais intangíveis, aqueles que transcendem a existência corpórea. Os sonhos movem o mundo. Alguém sonhou e fez a roda, um sonhou e elaborou a teoria da relatividade, outro sonhou e resolveu dar bom dia a todos na rua. Um sonhou e inventou a máquina. Outro sonhou que podia sonhar novamente e a máquina chorou óleo.

3 comentários:

  1. Oi Ju! Achei seu blog pelo seu orkut, so li esse texto e achei muito bonito, mesmo. Voltarei mais vezes. Apareça n´asacadadacasa.blogspot tbm, viu!?

    beijos

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  2. esse texto realmente foi forte e eu me emocionei xD eu nem sei o q dizer, pq gestos simples como esse é dificiu de encontrar e é uma coisa q eu sempre sonhei .. enfim nao intenda xD

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  3. Esperanças movem o mundo, apesar de ser somente ESPERAR. O utópico tem consequencias no real... sonhos sao necessarios, seja qual for eles... as vezes penso que perdi a capacidade de sonhar, estou CONFORMADA, aceito o que tiver, nao tenho grandes sonhos... o que sera de nós ?
    é bonito ver uma moça resgatando o sonho da avó...

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