sexta-feira, 31 de julho de 2009

Incomparável

Minha última experiência com o amor me deixou uma chaga. E nem o mais poderoso elixir trouxe de volta o rubor de antes. Emplastos, placebos e beberagens não serviram de remendo, posto que o passado não tem remendo nem emenda nem nó, não tem nada a não ser buraco negro de vácuo lancinante tragando o NOVO e o DE NOVO.
De um ovo, um pássaro e suas plumas preto-pixe embaçadas por trás de minhas lágrimas.

Um passáro se alimenta de vôo.
O buraco se alimenta de soro.

E lá vai ela pelo azul-ciano enquanto sorvo água e açúcar-sal na purulenta taça.

O vôo é sazonal.
A dor não.

Verão-Outono-Inverno e seu retorno na minha Primavera amena. Traz ramos no bico, e os deposita em alicerces dentro de minha chaga. Retiro a construção e reclamo o alvará. Teima e se põe a obrar na escuridão de meu sono. Abro os olhos e percebo que se aninhou. Seu calor apazigua as minhas angústias, o pretume impermeável barra as lágrimas que ainda vertem.

Ela tem asas.
Eu não.

Alça vôo e deixa o ninho e a chaga sob meus antigos cuidados, a lembrança de outro amor que se foi, a promessa de retorno na próxima amena-estação. Me precipito numa desesperada conclusão comparando os dois objetos de divergentes naturezas, comparando o que não tem comparação.

Quem ama é livre.
Quem voa não.

3 comentários:

  1. o passado pelo menos poderia ter remendos =/
    me vejoo nesse texto... ah, melhor eu nem falar mtu nao xD
    como sempre seus post sao foda prima!

    ResponderExcluir
  2. Acidentalmente encontrei este blog, e inconscientemente li seus textos e tenho que dizer: Amei.
    Amei não só suas palvras sinceras, mas amei ter reencontrado uma pessoa com tamanha importância em minha vida (mesmo que virtualmente apenas).

    Talvez você nem lembre que existo, mas ainda exite em mim.

    Um beijo de um anônimo conhecido que te admira muito.


    Boa sorte

    ResponderExcluir
  3. que triste, e ao mesmo tempo, que poetico o texto... me vejo nele tbm, acho que ja tivemos alguma conversa desse tipo. Temos talvez capacidade de amar, de nos apaixonar... mas o amor se vai, e eu fico aqui - foi-me tragado meu rubor, minha coloração. Não sei se quem ama é livre(penso talvez que quem ama seja preso), mas a prisao, em seu modo subjetivo, pode ser reconfortante, uma lugar a qual se prender e a qual dá forcas para voltar pra casa... Penso que minha familia e alguns amigos meus fazem esse papel... o amor sexual representa apenas uma infima parte, nao?

    ResponderExcluir